Thaís Zimmer Martins
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Poems


ano novo

acho que voltei
ou parte de mim
voltou e se condensou
em um tempo que
passa e que não passa
que some e que crava

acharia-me ainda
se assim o pudesse
cavaria essa água
pra me desaguar
mas sumiu-me o conceito
de líquido
sumi-me e fiquei
em secura definitiva

esboço umas pinceladas
que não dizem:
não dizer é estar no
fundo do fundo dessa
solidão me jogada às
pressas
não quis mas me impuseram
o aborto
pari pra dentro
prematuramente
...

intensidade

e quem diria que esses
rasgos abstratos
doeriam mais que
aquele murro que tomei
na boca na quinta série
...

com as unhas
te arranco
do centro de mim
estão aparadas, as unhas
então não dói
tanto assim
...

a fruta
não cai
longe do pé
disseram
corri pra longe
mil quilômetros
pra ainda assim
cair fruta
me estatelar
no chão
igual
igualzinha
carne unha
osso raiz
semente podre
folha ressecada
fechada
como o pé
...

aponto
o martelo pro peito
e estatelo
em mil pedaços
o órgão
que pulsa
80 vezes
por minuto
100 mil vezes
por dia
3 milhões de vezes
por mês

quebrado
ele permanece
aglutinado
nele mesmo
pra depois
voltar a bater
aos cacos
ou reintegrado
outra vez